Segunda Gaveta

MARCELA SOUZA - Portifólio

2 de mar. de 2011

Oscar 2011 - comentário

Nenhuma surpresa avassaladora nas premiações do Oscar desse ano.


Ótimos filmes concorrendo, grandes nomes já consagrados do cinema, roteiros que surpreenderam, belíssimas fotografias e histórias incríveis se contrapondo à outras já conhecidas, mas não menos importantes e merecedoras de um espaço na telona.


Embora A Rede Social tenha se mostrado favorito na corrida pelo prêmio de melhor roteiro adaptado, outros nomes também faziam jus à indicação: 127 horas, por exemplo, é um longa excelente, com uma interpretação notável de James Franco. Valorizo esse filme pela boa percepção do diretor em parceria com o protagonista - Franco é (praticamente) o único personagem da história e contracena consigo mesmo de maneira intensa. O que é pra ser maçante, transforma o filme em horas de tensão e esperança.


Por outro lado, A Rede Social não desmereceu o prêmio - protagonistas que não são tão grandiosos mas que conseguiram a admiração e a torcida do público. Mas, acima de tudo, o longa traz a tona uma questão bem atual e importante: a internet como veículo de mudança mundial e como os jovens, principalmente, participaram ativamente dessa imensa transformação.

Sobre os prêmios de melhor fotografia, direção de arte e efeitos visuais, nenhuma decepção. As cenas magníficas de A Origem não poderiam receber menos do que um Oscar (ou dois, no caso). Coisa de sonho, mesmo. E não somente pela complexidade dos ambientes, mas pelos cenários lindíssimos e pela organização dos personagens em cada lugar, sem falar dos efeitos especiais de tirar o fôlego. Uma beleza, realmente.


Alice no País das Maravilhas levou melhor direção de arte, bem colocado, aliás. Em um mundo de fantasia, principalmente se falando da fantasia do "País das Maravilhas", Robert Stromberg faz um trabalho minucioso de recriagem da história de Lewis Carroll. Créditos também por ter atualizado todo o ambiente da história e mesmo assim conseguido deixar os fãs sentirem-se "em casa".


Já no Oscar para melhor figurino, não concordei com a premiação. Apesar de Alice no País das Maravilhas contar com um ótimo trabalho nesse sentido, trata-se de um filme fantasia. Por conta disso, não há muitos limites a serem respeitados - uma equipe concentrada, uma boa imaginação e criatividade já são 90% do caminho andado. Para quem tem esses atributos, não fica assim tão difícil, principalmente por ser uma história já existente, onde os figurinos já tem, no mínimo, uma base. Melhor ainda, pois dá a chance do figurinista trabalhar em cima disso e "recauchutar" tudo, trazendo para a modernidade.


Muito mais complexo é o trabalho dos figurinistas dos filmes de época. Para estes, os limites são muito maiores, bem como a complexidade: depende da época retratada, do lugar, da classe social dos personagens, da personalidade de cada um deles, da impressão que se quer passar, entre outros inúmeros detalhes. Tudo isso precisa estar perfeitamente encaixado e de acordo para não causar estranheza nos espectadores e para ambientalizar cada personagem dentro da história.

Por causa disso, acho que o prêmio deveria ter sido do O Discurso do Rei ou Bravura Indômita.


No prêmio para melhor trilha sonora, não sou contra nem a favor. Não sei se A Rede Social foi tão bem assim (ainda não assisti o filme), mas com certeza creio que Cisne Negro não merecia menos. Afinal, o filme não deixa de ter sua característica fortíssima de "musical". As cenas do espetáculo são, no mínimo, emocionantes, não posso deixar de crer que merecia, pelo menos, uma indicação.


Já para canção original, torci para 127 horas - If I rise coube muito bem no longa, deu um toque especial e que combinou muito bem com a história. Porém, Toy Story 3, como todo grande clássico da Disney, sempre pega forte no quesito "música" e levou, bem colocado também, o prêmio. E não somente esse: ficou também com o de melhor animação, esse sim com total mérito, o melhor longa da série e o melhor indicado nessa categoria. Uma graça, realmente.


Já imaginava que o documentário brasileiro Lixo Extraordinário não fosse levar a estatueta. Creio que o Brasil ainda não está preparado para concorrer a esse tipo de prêmio - o nosso negócio ainda é novela. Mas é reconfortante e promissor saber que estamos caminhando bem, a ponto de merecer uma indicação. Espero que nossos produtores e diretores vejam isso e continuem investindo, acredito que ainda tenhamos grandes chances, talento não falta, o que falta é incentivo e iniciativa.

Agora, vamos aos maiores nomes (na minha singela opinião).

Por isso, deixei para falar por último.


O Discurso do Rei.

Merecidíssimo e muito grata surpresa, para mim, ao menos, o prêmio de melhor filme.

Uma delicadeza e inteligência aguçada de Tom Hooper, igualmente merecedor do prêmio de melhor diretor. O que era para ser uma história simples e "sem sal", como se diz, transformou-se num enredo de emoção, superação, carisma e beleza e levou, por conta disso e muito justo, o prêmio de melhor roteiro original.


O filme é sobre a gagueira de um rei, super resumidamente. Mas, no decorrer das horas, o espectador se apaixona por esse rei, por sua coragem e ao mesmo tempo, seu medo, sua insegurança. Isso tudo além do fato de se passar numa época de grande importância histórica - a Segunda Guerra Mundial. Uma história fácil de compreender, bonita de se ver.

Impossível falar desse filme sem mencionar o ganhador (justíssimo) do prêmio de melhor ator, Colin Firth. Ele está simplesmente fantástico no papel, feito sob medida para ele, que, cá entre nós, merecia um papel digno de sua competência como ator há um bom tempo. E foi só dar a chance a ele que ZÁZ! O inglês fez, e fez bonito.


No entanto, se Firth mereceu a estatueta de melhor ator, foi porque contracenou com um parceiro brilhante, para dizer o mínimo: Geoffrey Rush.


Impecável como coadjuvante, fazendo uma junção lindíssima com Firth. A ligação entre os dois é o que há de mais bonito no filme e a grande razão do sucesso. Se um levou o Oscar, o outro deveria ter levado também.


Mas não foi o que aconteceu - Christian Bale, outro veterano, levou o prêmio. Também não tive ainda a chance de assistir O Vencedor (e estou bastante curiosa), porém dizem que esse papel deu a chance a Bale de mostrar seu verdadeiro potencial. Alguns dizem que isso se deve ao fato de ele poder interpretar um pouco "a si mesmo" na pele de Dick Ecklund, um ex-boxeador frustrado que tenta reviver o auge através do irmão, Micky Ward, interpretado por Mark Wahlberg (que, aliás, nem indicação teve).

Wahlberg vem enfrentando uma temporada de azar, eu diria.


Aproveitando para falar sobre O Vencedor, Melissa Leo levou a estatueta de melhor atriz coadjuvante e, segundo dizem, é uma das estrelas do longa.


Deixei para falar, por último, do filme que, para mim, foi o melhor do ano: Cisne Negro.

Este filme me deu dois grandes sentimentos: a alegria de assisti-lo e a decepção por não te-lo visto ganhar Oscar nenhum.

Natalie Portman ficou com o prêmio de melhor atriz, que não poderia ser de outra pessoa, sem sombra de dúvidas. Achei até que a estatueta já deveria ter vindo com asinhas negras de cisne.

Maravilhosa, intensa, intrigante. Poucos adjetivos para definir a atriz nesse longa.


Para mim, Cisne Negro tem tudo o que um excelente filme precisa ter: um grande elenco, pois além de Natalie ainda contamos com a atuação fantástica de Vincent Cassel, que está simplesmente encantador e sedutor. Tem também Mila Kunis, com um papel de destaque para a história em geral, mas que, para mim, não correspondeu tanto quanto poderia. O personagem dela merecia um pouco mais de sua capacidade, poderia ter sido ainda mais (se é que é possivel), notável e perturbador.


Ainda sobre os quesitos para um excelente filme, Cisne Negro gira em torno de poucos personagens e, tal qual O Discurso do Rei, faz desse fato, o motivo para o filme ser ainda mais forte.

Fotografia simples, porém muito bonita, cenas lindíssimas de ballet, trilha sonora delicada e excêntrica ao mesmo tempo. E para finalizar, um roteiro extremamente intenso, chocante, bruto, sensual e, como se possível, melancólico e dolorido.

Cenas que deixam até o Alexandre Frota e a Bruna Surfistinha com vergonha de assistir perto dos pais. É um filme brilhante.


Enfim, no geral, creio que os prêmios foram entregues aos seus respectivos donos, sem erros absurdos e nem decepções grandiosas. Um bom reconhecimento àqueles que o mereceram em um ano de títulos excelentes e que me fazem amar, cada vez mais, esse mundo maravilhoso do cinema.


Marcela Souza

1 comentários:

Unknown disse...

Uoouu, Primeiramente parabéns pelo belíssimo texto. Não tenho uma opinião formada sobre todos os ganhadores, pois ainda preciso ver muitos filmes, porém vale ressaltar a grande atuação de Colin Firth, foi surpreendente este filme ao meu ver, entrei no cinema sem grandes esperanças, mesmo já ter visto a atuação brilhante dele no filme Mystic River (Sobre Meninos e Lobos) ao lado de Sean Penn, Colin Firth ganhou Oscar de melhor ator coadjuvante neste filme, que alias é um dos melhores que já vi.
Parabéns, fico feliz pelo seu conhecimento e interessa na 7ª arte. Sempre vou te acompanhar. Beijo.