Essa foi a sensação que tive quando os créditos começaram a subir na tela e as luzes da sala se acenderam. "Paraíso" é uma boa descrição para este filme brilhante de Peter Jackson. Aliás, não se podia esperar menos de um homem que transformou a mágica de J.R.R. Tolkien em personagens de carne e osso.
Minha admiração profunda pelo longa já começa, literalmente, no começo. O filme é narrado em primeira pessoa, pela protagonista e vítima, Susie Salmon, assassinada por um vizinho. Ela conta como tudo aconteceu, até o seu desenlace da carne, e continua sua trajetória entre o mundo real, que deixou para trás, e o mundo paralelo, mostrado através de seus próprios olhos, o "seu Céu", como ela mesma diz.
O filme se passa na década de 70, na tranquila cidade de Norristown, Pensilvânia. Susie é uma menina de 14 anos, no auge dos sonhos de adolescente, filha do meio em uma típica família feliz e comum dos EUA. Apaixonada por fotografia (paixão essa que combina perfeitamente com a fotografia magnífica do filme, assinada por Andrew Lesnie), ela passa seus dias entre fotografar tudo que vê, o convívio familiar e a descoberta de um inocente amor por um colega de escola.
Porém, apesar de estar entrando no mundo da adolescência, Susie guarda ainda a essência da infância, e é esse encanto que transforma-se em sua tragédia. A curiosidade própria das crianças torna-se a arma fatal que tira o sopro de uma vida prestes a começar.
Ao voltar da escola, inebriada pelo amor correspondido, Susie encontra com um de seus vizinhos, aparentemente inocente, que a convida para conhecer um "refúgio" que ele mesmo criou para as crianças do bairro. Apesar de sentir os sinais de perigo, sua curiosidade infantil fala mais alto, e ela acompanha seu algoz. Lá, o medo logo se apodera da menina, e quando seu instinto de sobrevivência grita, já é muito tarde.
A partir daí, Susie passa a viver entre o Céu e a Terra, lutando entre o desejo de vingança, o medo do desconhecido, o amor e saudade de sua família e de seu amor e o encanto da beleza de um mundo surreal.
Por fim, ela finalmente se liberta das amarras que a segura entre os dois mundos e consegue, principalmente, libertar aqueles que a amam para que possam prosseguir suas vidas.
Excelente atuação de Mark Wahlberg e Susan Sarandon, veteranos, e de Saoirse Ronan, que com certeza marcou seu talento desde já.
Desnecessário falar sobre o cenário que se desdobra do mundo paralelo. Um misto de real e fantasia, imagens belíssimas onde o espectador pode crer na afirmação de que "o céu e o inferno somos nós quem criamos". Eles realmente tem "a cara que a gente pinta". A idéia de transformar sonhos, sensações e até objetos do mundo vivo de Susie para o "seu Céu" foi uma sacada incrível do diretor, além de proporcionar imagens impressionantes de beleza e emoção para os espectadores.
Eu, particularmente, A-M-O qualquer coisa que me remeta a introspecção. Visitar mundos interiores é fascinante. Visto de um segundo olhar, mais ainda.
Espírita convicta que sou, me vi sentada dentro de meus amados livros, "lendo" imagens na telona. Maravilhosa a visão do diretor colocando os pontos da "vida após a morte" nas cenas. A ligação entre desencarnados e encarnados, um influenciando o outro, os sentimentos compartilhados entre afins, a luta do espírito para aceitar o desenlace da carne, para partir para o outro plano, o sentimento de revolta pela perda precoce da vida, a mente doentia do psicopata, o laço entre os que se amam, que ultrapassa as barreiras da morte, os amigos espirituais que lutam para ajudar o outro que ainda sofre, enfim. Eu poderia descrever cada um desses pontos, mostrados no filme, que são a nossa realidade. Emocionante.
Fico tremendamente grata por poder compartilhar de histórias assim.
Marcela Souza
3 comentários:
Cara Marcela,
Compartilho de sua opinião sobre o filme, apenas achei que no íntimo ela estava mais querendo justiça que vingança.
A preocupação dela ao ver a irmã ameaçada e estar impotente diante do fato é destaque.
A árvore, cujas folhas são aves, foi uma enorme sacada.
Este filme merece, depois de visto, uma boa reflexão.
E, no final, o próprio plano espiritual faz justiça.
O filme é realmente impressionante. Apenas achei que podia ser mais resumido. Ficou durante muito tempo pairano entre o "céu da Susie" e a Terra. Deve ser realmente angustiante aceitar a morte e partir.
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