Segunda Gaveta

MARCELA SOUZA - Portifólio

Nos tempos da pós-abolição, ano de 1897, os negros ainda sofriam em um país repleto de preconceitos , um dos últimos países a libertar os escravos. Estes negros viviam em sociedades hipócritas e racistas, e se perguntavam, muitas vezes, se realmente teria sido melhor a abolição da escravatura, pois pelo menos, quando eram escravos, tinham o que comer e onde viver.

No momento em que se encontravam, os negros eram libertos, porém desempregados, desprovidos de teto e de comida. Sofrendo todas as agruras de uma terra onde ainda reinava a lei do branco.

É neste cenário que vamos encontrar Manoel Henrique Pereira, filho de ex-escravos, nascido na cidade de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano. A situação dos sertões do Brasil era ainda mais complicada. Manoel, assim como todos os outros negros do local, não sabiam trabalhar em outra coisa se não nos engenhos de açúcar e café, e por isso continuavam vivendo em um regime tão semelhante ao da escravidão.

Porém, Manoel não era um negro conformado. Aos 20 anos, exímio lutador de Capoeira, já era conhecido por toda a cidade como Besouro Mangangá, ou Besouro Cordão de Ouro, um jovem forte e corajoso que não abaixava a cabeça para os senhores de engenho. Era, portanto, odiado e caçado por muitos.

No decorrer da história, uma tragédia vem a colocar a prova toda a coragem de Besouro. Protegido pelos Orixás de sua crença, Besouro luta contra o preconceito e a injustiça, enquanto seus amigos lutam para manter unido e a salvo o seu povo.

Em um mistura de beleza, crença, fé e cultura, o filme fala sobre diversos pontos da cultura africana, a implantação da capoeira entre os negros do Brasil, ensina um pouco sobre o Candomblé e seus Deuses, e como a fé e a luta transformaram o solo do Brasil em um cenário de sangue e suor.


Particularmente, fiquei impressionada com o filme. Os personagens, embora nenhum conhecido, com exceção de Chris Vianna, levam o público para dentro da história, para viver aquele ambiente repleto de misticismo, mistérios, fé e luta. Fiquei particularmente impressionada com Sérgio Laurentino no papel de Exu. Nunca havia visto esse ator, mas não tem como não notá-lo quando aparece na tela do cinema. A sensação é de estar diante, literalmente, do Orixá a quem ele representa.Os pêlos do braço chegam a arrepiar.

Outras coisa muito interessante é a abordagem sobre a religião africana neste filme. Embora o destaque seja para a Capoeira, brilhantemente representada por todo o elenco, foi a abordagem da religião que mais me chamou a atenção.

Ao ler a crítica, pude comprovar o que estava pensando: Besouro mostra a abordagem dos Orixás pelo lado da Natureza, que é a verdadeira essência do Candomblé. Conheço um pouco sobre essa religião, e ainda não havia visto em nenhum filme ou história (apenas em livros e pesquisas) essa abordagem mais real da religião.

Esta é uma crença muito estereotipada no Brasil. Muitas histórias giram em torno dessa religião, muitas vezes tida como inferior ou como "arte do mal". Fiquei bem satisfeita em ver essa visão diferente, ainda mais no cinema, que tem uma abrangência imensa.

Lindas cenas, uma fotografia invejável, atores brilhantes (que realmente merecem mais evidência), este é um filme que não se esquece. Além de aguçar a curiosidade e mexer com as nossas crenças e medos (do desconhecido), ainda nos traz traços maravilhosos de nossa própria cultura. A capoeira foi considerada um patrimônio cultural brasileiro por causa do que começou naquele ano de 1897, pelas mãos de Besouro e seus irmãos.

Parabéns ao cinema nacional, o qual sou fã incondicional, particularmente. A qualidade dos filmes tem aumentado demais: ao invés de apenas mostrar o lado triste, pobre, favelado e violento, estamos optando por mostrar traços da nossa tão rica cultura. E os resultados tem sido emocionantes tem valido muito, muito mesmo, a pena.

Marcela Souza.

1 comentários:

Unknown disse...

Além de ficar arrepiado com o filme, fiquei mais ainda com a capacidade de passar a sua leitura do filme neste texto, para variar não poderia descrever melhor tudo o que vi como você descreveu. Sim sou leitor assiduo dos seus textos, assim como frequentador assiduo da sua vida, ou melhor, da nossa.

Te Amo!!!!