Segunda Gaveta

MARCELA SOUZA - Portifólio

Mais uma vez, aproxima-se o momento de exercermos o que todos chamamos de Cidadania - está chegando o dia das eleições.

Chamar de Cidadania o ato de eleger alguém para nos "comandar" é, no mínimo, hipocrisia. Começando pelo fato de que não temos escolha: somos obrigados a votar em alguém.

Cidadania, no sentido literal, consiste em um conjunto de direitos e deveres que um indivíduo está sujeito, em relação a sua sociedade. Direitos e deveres. Deveres sim, esses temos aos montes. E o primeiro é o dever de votar. Outra hipocrisia é a de mencionar o voto como um direito. Se fosse um direito nosso, não seríamos obrigados a ele, votaríamos se realmente achássemos que é importante, ou que é necessário, enfim, cada umque optasse por votar teria seu motivo, que, POR DIREITO, seria respeitado. E, aquele que não quisesse, teria o seu direito de não votar também respeitado.

Nota-se, então, que a própria Cidadania, no sentido do que aprendemos na vivência do mundo, é um DEVER, e não um direito. E isso culmina no fato de que é errada a afirmação de que "vivemos em um país livre". Desde o nosso descobrimento, não somos livres.

Fomos descobertos por acaso - mais do que isso - fomos descobertos por um engano. E continuamos enganados até hoje, séculos e mais séculos depois. Somos escravos de nossos deveres, somos escravos dos impostos que pagamos, do alimento que ingerimos, das roupas que vestimos. Somos escravos do Capitalismo. Dependemos do dinheiro.

Definitivamente, não somos livres, salvo se quisermos ser presos, ignorados, injustiçados ou, em última instância, se quisermos morrer de fome ou, simplesmente, morrer.

Outra questão que também incomoda: direitos iguais. Se somos todos iguais, porque temos que eleger alguém para decidir o que é melhor para o nosso país? Quem pode nos garantir que o "escolhido" sabe o que eu ou você precisamos em nossas casas? O Brasil não é um local. O Brasil são milhares de pessoas, cada uma com um problema diferente, uma dor, um desejo, uma experiência, um conhecimento, um aprendizado, um ideal. Como uma única pessoa pode saber como atender a todos em suas necessidades? É justamente por isso que devíamos ter a opção de não escolher ninguém, sem que pra isso tivéssemos que sair de nossas casas e ir até a urna para anular o nosso "direito" de voto.

Para entender esta linha de raciocínio, parto de um fato já muito mencionado, mas que é a mais pura realidade contraditória já vista nesse solo tropical: todos aqueles que discursam, palestrantes, empresários, médicos, professores, enfim, todos os indivíduos que falam ao público, levantam a afirmativa "A educação é a chave de um futuro brilhante. Os problemas sociais do país são todos causados pela ignorância, pela falta de educação"(em todos os sentidos).


Não precisamos ir muito longe: todos nós, quando crianças (e até depois de adultos), ouvimos de nossos pais "estude"! Para ser alguém na vida, você precisa estudar".

Trazer essas frases para a nossa realidade é de entristecer até o mais otimista dos mortais. Se a educação é o fator mais importante para sermos "alguém", o que dizer de um país em que o seu superior é um homem sem, ao menos, o Ensino Médio, e um dos maiores bandidos (e dos mais inteligentes) é um homem que já leu mais de três mil livros, casado com uma universitária de Direito?

É, meus caros. Resta-nos saber se o melhor é estudar muito para sermos bandidos inteligentes, do nível de Marcola, ou sermos ignorantes e nos tornarmos presidentes da República.

Em um país de contradições, onde o setor mais organizado é o crime e o mais falho é o governo, precisamos mesmo rever os nossos conceitos e transformarmos a Cidadania em um privilégio, e não mais em uma obrigação.

Marcela Souza

0 comentários: