Segunda Gaveta

MARCELA SOUZA - Portifólio

4 de abr. de 2008

"Sou pobre, mas sou santista"

José Antônio Costa de Peres, 63 anos, o Zé do Peixe, como prefere ser chamado, é torcedor fanático do santos Futebol Clube. Veio de Palmas, Tocantins, para Santos, aos 34 anos. Deixou dois filhos com sua primeira esposa em sua cidade natal. Desde então, apaixonou-se pelo time da Baixada. "Foi amor à primeira vista. Quando eu vi o Pelé jogar, o distintivo Alvinegro estampado e o grito da torcida, eu percebi que aquilo seria minha vida dali pra frente", diz.


Quem o vê falando, acha que ele é apenas mais um torcedor comum. Mas não é. Há 22 anos, José Antônio Peres está desempregado e é morador de rua. Mesmo assim, ele não pensa em sair de Santos nem sobre o que será de sua vida no dia seguinte. Afirma que vive um dia de cada vez, sobrevive a cada 24 horas. "Sou pobre, mas sou santista", diz ele.

Zé do Peixe conta que, logo que chegou à cidade, arrumou um emprego como porteiro em um dos poucos edifícios situados no Centro de Santos e casou-se pela segunda vez. Todo seu dinheiro era gasto com seu amor pelo Peixe: comprava tudo que tinha relação com o Clube, como uniformes e instrumentos,. e pagava mensalmente para fazer parte da torcida organizada Sangue Santista. Com isso, gastava muito com viagens para assistir aos jogos. Estava sempre no meio das confusões causadas pela rivalidade entre as torcidas e foi preso algumas vezes por conta disso. "Era só olhar. Se tivesse um amontoado de gente distribuindo paulada, eu estava no meio".

Depois de quatro anos de casamento e mais dois filhos, a esposa o mandou embora de casa. Não aguentava mais a situação em que vivia com o marido. As contas iam vencendo e Zé não pagava, tinha que guardar dinheiro para gastar com seu time de coração. Mas sua esposa não o colocou para fora de mãos vazias: deixou que ele levasse seus dois uniformes do Santos. "Até hoje é tudo que eu tenho, como você pode ver", diz, mostrando a camisa extremamente surrada, "esse uniforme está bem velhinho, mas é oficial".

Quando seu casamento acabou, Zé do Peixe não pensou duas vezes. Não voltaria para Tocantins. Em menos de dois meses, foi mandado embora do emprego. Mas não deixou a Baixada Santista. "Olha, eu perdi tudo nessa vida: esposa, filhos, casa, emprego. Mas não ia perder o meu peixão. Era e ainda é tudo que me resta", diz com os olhos brilhando.

José Antônio passou a residir na casa de alguns amigos, mas não deu certo por muito tempo, já que ele não arrumava emprego para ajudar nas despesas. Foi então que passou a ficar dia a´pos dia na rua. "Eu fui me acostumando com isso. Um dia dormia numa praça, no outro arrumava um albergue que dava abrigo, outro dia simplesmente vagava pela madrugada na rua até amanhecer".

Zé do Peixe vive nas imediações do Centro de Treinamento do santos Futebol Clube, no Jabaquara. Ele diz que vive ali porque "é bem sossegado, não tem muita gente olhando torto, nem muita polícia reclamando. Mas o motivo principal é simples. Eu não tenho dinheiro para assistir aos jogos na Vila, nem pra viajar acompanhando os jogos. Então assisto aos treinos, pelo menos quando são abertos ao público. É uma forma de estar perto do meu Alvinegro".


Marcela Souza - publicado em Agência Facos.

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